E tinha a minha bisavó, muito velhinha e linda. Rosto marcado de tempo e sofrimento. Rezava um rosário todo dia. Que eu nunca esqueça seus vestidinhos floridos, seus poucos filhos de barriga e os muitos de coração. Tomara que eu nunca esqueça a marrafa que ela usava pra pentear e prender em um coque os cabelos que nunca foram pintados – e, mesmo assim, tinham um tom muito bonito de cinza. Ela sabia a cura de todos os males – lambedor, chá, folhas e ervas. Me ensinou a rezar – vou esquecendo disso. Tinha uma pimenteira no muro – uma vez, achando bonito o vermelho da pimenta e o verde das folhas, passei a pimenta na boca. Que eu nunca esqueça o amor que ela tinha pelo meu bisavô e as histórias de botija e de trancoso. A casa era de vila, móveis velhos, teto sem forro – mas nunca faltou um prato de comida a quem precisasse, gente ou bicho. Que o doce de leite de caroço, o pote de barro e fotografias de santo sempre me lembrem ela.
Que eu nunca esqueça o amor, que era ela.